Saudações. Permita-me que eu me apresente: sou um texto, como já
deves ter percebido. Não tenho nome marcante, não sou príncipe, nem
conde e tampouco barão. Meu único título é este aí de cima. Como vim
parar aqui não sei. Talvez tenha sido escrito, ou simplesmente
cuspido, só sei que aqui estou eu. Tu sabes como fostes parar aí onde
estás? Quem te escreveu ou cuspiu? Quanto a mim, não encontrarás em meu
corpo grandes defeitos ortográficos ou doenças verbais, mas sei que
estou longe de ser elegante. Mas não culpo meu
autor, como já disse, o desconheço.
Não se engane: eu não tenho nada a dizer. Porque é que todos acham que
os textos devem sempre dizer algo? Justo nós que temos uma existência
tão breve que só dura enquanto pousam os olhos sobre nós, sedentos de
informação, distração, emoção ou qualquer coisa
que um texto possa proporcionar. Mas não este que vos fala. Ao que me
parece eu bem poderia ficar um tempo em silêncio.
Viu só?
TAMBÉM POSSO GRITAR!
Oufalartudodeumavezsemrespirarnemperderofôlego.
Se assim lhe agradar
Também posso rimar.
Posso ir daqui
…………………………………………………………………………………………………..até lá.
Mas estas pequenas margens
……………………………………………………………………..são o limite do meu mundo.
Portanto, a única maneira de manter alguma chama viva de minha
natureza é em forma de pensamento, mesmo que esta chama se apague
fugazmente um tempo depois. Se pensares em mim, então, viverei um pouco
mais. Do contrário, sou como qualquer outro de teus
semelhantes: apareço em tua vida, andamos de mãos dadas e nos
despedimos na próxima estação.
De qualquer forma, obrigado pela companhia, foram excelentes
minutinhos. Se sou um bom texto espero ter, igualmente, lido-te também.
Devo partir agora. Na linha-férrea da existência saltarei no próximo ponto.
E aqui está ele.