quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Precisamos falar sobre o trânsito



Quando pensamos em trânsito, imediatamente lembramo-nos das cidades grandes, com seus arranha-céus, semáforos e muito estresse. Sim, estresse; afinal, em horários de “pico”, é quase impossível não ficarmos mais ansiosos e agitados. Muitas pesquisas mostram que esse estresse gerado no trânsito tem prejudicado a nossa qualidade de vida, capacidade de julgamento e causado irritabilidade. Contudo, a pergunta que devemos fazer é: será que o problema está só na escassez de transportes públicos, no acúmulo de automóveis ou na forma como nos relacionamos no trânsito?
Nós sabemos que o interesse em melhorar as políticas de infraestrutura em nosso país é deficitário; no entanto, a cada ano, o número de acidentes, seja nos centros urbanos ou nas estradas, tem aumentado significativamente. E isso não se deve apenas à má vontade dos governantes em melhorar a situação.
Quem tira carteira de habilitação (tornando-se apto a dirigir) ouve de seu instrutor: “não existe acidente, mas imprudência”. E é verdade! Quantos acidentes poderiam ser evitados se os sinais de trânsito, as vias de mão dupla e única, o pedestre, o ciclista fossem respeitados?
Com a falta de sinalização, o motorista, o pedestre, o ciclista não sabem para que lado o condutor de determinado veículo vai. São tantos os fatores que geram estresse no trânsito, que, certamente, se você eu sentássemos agora para um café teríamos muitas histórias para compartilhar. É, portanto, um problema comportamental: há homens que insultam mulheres no trânsito simplesmente por elas serem mulheres; há jovens que reclamam dos idosos justamente por serem idosos; há quem não respeite o outro que tenha um veículo mais simples ou mais antigo. “Manias” do trânsito que mais parecem falta de educação.
Podemos refletir sobre diversas questões neste tema: fatores emocionais e psicológicos, por exemplo, afetam em muito o condutor. Por desatenção – porque está pensando na bronca que levou do patrão, por exemplo –, o motorista pode passar o sinal vermelho e causar um acidente que mudará sua vida (e a de outrem) para sempre. Alguns segundos de desatenção, e toda uma história é modificada. O uso do celular ao longo do trajeto (tomara que você não esteja lendo este texto em seu celular enquanto dirige!), a falta da cadeirinha no carro ou seu uso incorreto, a não utilização do cinto de segurança, do capacete ou de outros equipamentos de segurança são fatores que, a depender das circunstâncias, podem se transformar em uma fatalidade.
É verdade que os governos podem continuar criando leis e medidas ainda mais duras, mas se não mudarmos a direção das circunstâncias, os reflexos de nossas más ações no trânsito prosseguirão matando inocentes. Pela nossa má conduta, estamos no quinto lugar no ranking de países que mais matam no trânsito de todo o mundo. Projetos como Maio Amarelo e Não Foi Acidente são importantes para a conscientização dos riscos de que nossas más condutas podem acarretar, porém não podemos parar apenas nessas reflexões pontuais, mas também agir. Será que demoraremos tanto tempo para compreender que nossas ações irresponsáveis no trânsito podem matar?

Escrito por Evelyn Mayer, Mestre em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina.